Evento em comemoração aos 20 anos do ITTC debate migração, gênero e cárcere

Vivências das mulheres migrantes e egressas do sistema prisional e atuação do Projeto Estrangeiras foram os principais temas abordados

O segundo encontro do Ciclo de cine-debates ITTC 20 anos aconteceu no último sábado, dia 28, no Museu da Imigração do Estado de São Paulo. Com o tema “Migração, gênero e cárcere – deslocamentos da cidadania”, o evento contou com a participação da equipe dos Projetos Estrangeiras e Migrantes Egressas, e mulheres de Angola e Moçambique atendidas pelo ITTC.

A mesa foi aberta por Michael Mary Nolan, presidenta do ITTC, Viviane Balbuglio e Barbara Heliodora, integrantes do Projeto Migrantes Egressas e Estrangeiras, que trouxeram um panorama da atuação do ITTC na temática. Natercia Ribeiro Pachisso, cabeleireira e moçambicana, e Irina Teófilo, angolana, apresentaram suas vivências, enquanto Ana Luiza Voltolini Uwai, coordenadora de comunicação no ITTC, ficou na mediação do evento.

Michael traçou um pequeno histórico da atuação do ITTC com mulheres migrantes em conflito com a lei. O primeiro contato do Instituto com essa população foi na Penitenciária Feminina do Tatuapé, onde havia cerca de 40 mulheres migrantes presas.

Em 2001, é criado o Projeto Estrangeiras, que desde então realiza atendimentos semanais com essas mulheres. Assim, as ações do ITTC se voltaram para “a mulher migrante em conflito com a lei, mas ainda reconhecida como migrante”, segundo afirmou Michael Mary Nolan durante sua fala.

Para promover o debate, foi exibido o minidocumentário “Cartas da prisão à liberdade”, que faz parte da série de vídeos sobre os 15 anos do Projeto Estrangeiras. O vídeo traz relatos de mulheres atendidas pelo projeto e suas perspectivas para a retomada de suas liberdades e autonomia.

“Quando elas estão presas no Brasil, estão distanciadas de suas realidades, de suas vidas, da família, da língua, da cultura. Além da própria perda de toda autonomia que se tem”, ressalta Barbara Heliodora.

A integrante do Projeto Estrangeiras também trouxe a reflexão sobre a situação dessas mulheres como migrantes. Discurso reiterado por Viviane Balbuglio, integrante do Projeto Migrantes Egressas, ao trazer questões como migração, gênero, raça e classe social, pensadas durante o trabalho com as mulheres.

“Por que a gente fala de migração? Porque a gente tem visto que as mulheres estão, cada vez mais, conseguindo formas de liberdade, de acesso a estar no mundo de fora, aqui em São Paulo. E isso nem sempre quer dizer que as barreiras da prisão são rompidas no momento que você sai”, explica Viviane.

Além dessas questões, Viviane abordou a relação das mulheres migrantes com o reconhecimento de seus direitos e a atuação do Projeto Egressas, que começou este ano no ITTC.

Foi a partir deste aspecto que se pensou o debate sobre os deslocamentos da cidadania. “A cidadania não é só construída pelos parâmetros que o Estado quer da pessoa” ressalta Viviane. Quando a pessoa migrante sai da prisão para cumprir regime semiaberto ou aberto, ela é exposta a uma série de dificuldades.O acesso à documentação, moradia, trabalho e educação são algumas das dificuldades que a pessoa migrante em conflito com a lei enfrenta. Ainda assim, Viviane fala da conquista em reconhecer estas pessoas como migrantes, perspectiva que ainda é nova dentro do poder público.

Migração e a inserção nos espaços da cidade

Natercia Ribeiro Pachisso, moçambicana, relatou sua história como migrante e egressa do sistema prisional. Presa em São Paulo por tráfico de drogas, no primeiro mês cumprindo pena, Natercia descobriu que estava grávida. Além da privação de liberdade afastada da sua vida e família, teve que lidar com a separação da filha, após ela completar seis meses.

Condenada a 7 anos de prisão, em uma época que a progressão de regime não era facilmente acessada. Natércia comenta a importância que o trabalho do Projeto Estrangeiras teve na sua trajetória, “sem ele [Projeto Estrangeiras], muita gente teria morrido naquele lugar”.

Irina Teófilo, angolana, apesar de não ter tido contato direto com o Projeto Estrangeiras quando estava presa, via a importância dele para as mulheres que não tinham assistência do consulado como ela. Agora, atendida pelo Projeto Migrantes Egressas, ela relatou a dificuldade para encontrar trabalho, problema também encontrado por Natercia.

Com o relato das duas, as dificuldades que a pessoa migrante e egressa encontra na cidade de São Paulo ganharam forma. O público participou com perguntas sobre xenofobia, a atuação dos consulados e embaixadas e também as diferenças de cultura entre o país de origem de ambas e o Brasil.

No evento houve a distribuição da linha do tempo do ITTC, que também está disponível em formato digital. As fotos do evento e a cobertura em vídeo estão disponíveis na página do facebook do ITTC.


Próximo evento:

ITTC 20 anos: Revista Vexatória – A violência contra familiares de pessoas presas
Dia: 09/11
Horário    18h    Local: FESPSP –  Rua General Jardim, 522 – Vila Buarque, São Paulo
O último evento do ciclo de cine-debates propõe uma retomada no tema da revista vexatória em familiares das pessoas presas. A temática aparece na história dos 20 anos do ITTC como uma pauta de extrema importância para o Instituto. Na ocasião, será exibido um vídeo sobre as revistas íntimas realizadas nos presídios seguido de um debate sobre o tema.

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nov 1, 2017 | Noticias | 0 Comentários

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