Por Mariana Camara,
do Programa Justiça Sem Muros
Um artigo interessante sobre a representatividade do sistema carcerário feminino em comparação com a série “Orange is the New Black” foi escrito pelo chefe de gabinete da Criminal Justice Policy Foundation (CJPF), apontando as diferenças entre a realidade e a série no que diz respeito às condições e às características das mulheres presas nos Estados Unidos. Apesar de olhar para os presídios federais femininos norte-americanos, as considerações do texto dialogam bastante com a realidade brasileira, mostrando que os problemas do encarceramento feminino devem ser pensados em uma escala mundial.
A primeira semelhança está na importância de dar visibilidade ao assunto, pois em doze anos (entre 2000 e 2012) a população carcerária feminina no Brasil cresceu 256% – somando hoje cerca de 36 mil mulheres presas. Assim como nos EUA, a maioria das mulheres presas são mães (no Brasil, estima-se que 87% das detentas sejam mães), com baixa escolaridade e provedoras de suas casas, entrando no mercado de trabalho muitas vezes de maneira informal ou ilegal – como através do tráfico de drogas. Na cadeia do tráfico, entretanto, ocupam lugares menores e precários – mas recebem penas altas por isso.
O histórico de abusos físicos e sexuais é constante e o número de mulheres com transtornos mentais também é bastante elevado. Como consequência da ausência de amparo do sistema social, essas mulheres são relegadas a situações precárias nos presídios, especialmente em áreas mais pobres do país ou em cidades mais distantes das capitais.
Apesar de a série retratar um universo obscurecido da sociedade e ter muitos pontos interessantes, a realidade se impõe sem espaço para idealização. A despeito do desejo da ficção de glamourizar a vida sexual das mulheres presas, de retratá-las como chefes de estruturas criminosas e de sugerir que a manutenção dos relacionamentos afetivos só depende de fidelidade, as prisões femininas que não aparecem na TV são mais caracterizadas pelo abandono familiar e a falta de recursos.
Clique aqui e leia o artigo de Amos Irwin na íntegra.
Imagem: Brasil Post