CESeC anuncia vencedores do Prêmio Gilberto Velho Mídia e Drogas 2016

Terceira edição do Prêmio conta com presença majoritariamente feminina

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O Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC), da Universidade Cândido Mendes, divulgou hoje em seu site os nomes dos vencedores do Prêmio Gilberto Velho Mídia e Drogas 2016, o primeiro do Brasil dedicado a estimular a cobertura de políticas e legislação relacionadas às drogas. Além do resultado do concurso, também estão disponíveis no site do Prêmio entrevistas dos ganhadores sobre os bastidores das reportagens.

A jornalista Débora Melo, da Carta Capital, ganhou o prêmio principal, no valor de R$ 7 mil, pelas três reportagens que inscreveu: “O Brasil entra no mapa da medicina psicodélica”; “Osmar Terra e o retrocesso na política de drogas” e “A cracolândia no centro da disputa política em São Paulo” (esta, com colaboração do jornalista Tadeu Amaral).

O segundo lugar, com prêmio no valor de R$ 3 mil, foi destinado à jornalista Alessandra Mendes, pela reportagem “100% irregulares: vistorias em 42 comunidades terapêuticas apontam violações de regras e direitos”, publicada pelo Jornal Hoje em Dia, de Belo Horizonte.

Em terceiro lugar, levando o prêmio no valor de R$ 2 mil, foi escolhida a jornalista Ana Luiza Voltolini Uwai, com a reportagem “Nosotras: Quem são as bolivianas presas em São Paulo”, publicada pela edição brasileira do Le Monde Diplomatique.

Como ocorreu em 2015, o júri decidiu conceder duas menções honrosas, ambas no valor de R$ 1 mil. Os vencedores foram as reportagens “Maconha: não basta ser contra ou a favor, é preciso entendê-la”, de autoria da jornalista Fernanda Teixeira Ribeiro, publicada pela revista Mente e Cérebro; e “Drogas: Os caminhos das políticas públicas no Brasil”, assinada pelo jornalista Juliano Amengual Tatsch, e veiculada pelo Jornal do Comércio, de Porto Alegre.

“É importante ressaltar que o júri se orientou não apenas pela originalidade das matérias, mas também pela  importância política dos temas tratados. Reportagens sobre disputas em jogo na definição de políticas de drogas; comunidades terapêuticas; e a dramática situação das estrangeiras presas no Brasil, lançam luz sobre os desdobramentos pouco discutidos em relação às drogas no país”, afirma a coordenadora do Prêmio Gilberto Velho, Julita Lemgruber.

“Esse ano recebemos inscrições de mais veículos de cidades do interior do Sul e de São Paulo. O tema da maconha medicinal, que foi dominante no ano passado, perdeu força”, diz a também coordenadora Anabela Paiva.

A seleção

Criado em 2014 como o primeiro prêmio do Brasil dedicado ao tema das drogas, o Prêmio Gilberto Velho recebeu este ano 60 inscrições, de 31 veículos, abrangendo sete estados brasileiros. No dia 18 de novembro, o júri se reuniu no Rio de Janeiro para escolher os vencedores. Participaram da votação a jornalista Andrea Dip, da Agência Pública; a coordenadora do curso de jornalismo da UFRJ, Cristiane Costa; o pesquisador da Fiocruz Francisco Inácio Bastos; o antropólogo e escritor Luiz Eduardo Soares; o editor-chefe do RJ TV, da TV Globo, Marcelo Moreira; o sociólogo e pesquisador do Cebrap, Mauricio Fiore; e a cientista social e coordenadora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC), Silvia Ramos. A também coordenadora do CESeC, Julita Lemgruber, foi a presidente do júri. O jornalista Bruno Torturra e a professora de Direito Penal, Luciana Boiteux não puderam estar presentes e enviaram seus votos.

O júri avaliou o trabalho investigativo, a abrangência e originalidade das reportagens na abordagem das drogas e seus impactos sobre a sociedade. As reportagens da Carta Capital foram selecionadas como um conjunto  representativo do esforço de uma profissional e seu veículo de investigar com frequência e qualidade as políticas e o contexto das drogas ilícitas no Brasil. “A guerra às drogas fracassou. E fracassou porque afasta os usuários dos  serviços de saúde, o que vai contra o entendimento de que o abuso de drogas é uma questão de saúde pública. A proibição financia um mercado negro, que enriquece o crime organizado, e esse poder paralelo é combatido com repressão e violência. O que parece, então, é que a guerra às drogas é mais um instrumento de exclusão social, que mata e encarcera quase que exclusivamente os moradores das periferias.”, contou Débora Melo.

A reportagem investigativa do jornal Hoje em Dia chamou atenção por fazer denúncias de violações de direitos humanos, falta de estrutura e acompanhamento no serviço prestado pelas comunidades terapêuticas. “O próprio poder público, que mantém esses locais, não faz um trabalho constante de monitoramento para checar se a  metodologia correta de tratamento está, de fato, sendo aplicada. Diante dessa ausência, muitos locais deixaram de cumprir regras fundamentais, como garantir estrutura mínima e tratamento médico, e introduziram técnicas de castigo e abstinência de contato familiar, que não condizem com o formato pensado para as comunidades. Ainda me chamou a atenção como o tema é pouco problematizado, já que esse relatório da situação das comunidades é o primeiro do tipo a ser feito em Minas Gerais, sem que houvesse uma demanda da sociedade para tal.”, disse Alessandra Mendes.

Já a reportagem da edição brasileira do Le Monde Diplomatique se destacou por apresentar o encarceramento de bolivianas no Brasil por tráfico de drogas como um drama humano, com vários aspectos e contradições. “O tráfico de drogas é a razão pela qual cerca de 90% das mulheres estrangeiras estão presas. Esse número significa muito mais quando se conhece suas histórias e os rostos por trás dele. Essas mulheres são em sua maioria mães, possuem baixa escolaridade, trabalham em empregos informais e são as principais provedoras de seus lares. Muitas delas fazem uma escolha consciente e assumem riscos para vir para o Brasil. Quando chegam aqui, são presas por conta de uma política de guerra às drogas injusta e incoerente, que as mantêm em diversas situações de violações de direitos, não só as mais noticiadas, como falta de itens básicos de higiene e superlotação, mas violações inerentes ao cárcere e que não podem ser resolvidas se não com o desencarceramento.”, observou Ana Luiza Voltolini Uwai.

A menção honrosa para a revista Mente e Cérebro, no valor de R$ 1 mil, premiou um dossiê amplo e completo sobre maconha, buscando debater a relação entre uso da planta na juventude e o aumento da possibilidade de desencadeamento de sintomas de esquizofrenia. “Acho que é necessária a discussão de uma política específica para a maconha. A importação de compostos de cannabis para uso medicinal já está acontecendo pouco a pouco, devido a muita luta de pessoas que necessitam desses medicamentos para várias condições, como epilepsia, dores crônicas e esclerose múltipla. Quanto ao uso recreativo, creio que a discussão da descriminalização e regulamentação deve considerar uma campanha de prevenção de uso, voltada especificamente para potenciais efeitos nocivos da droga para os mais jovens, talvez nos moldes das campanhas e restrições ao uso do tabaco”, opinou Fernanda Teixeira Melo.

A outra menção honrosa destinada para o Jornal do Comércio valorizou a abordagem ampla e aprofundada do atual modelo de política de drogas. “A imagem das drogas ilícitas no Brasil está relacionada diretamente à violência. Agir em direção a uma política mais liberal e menos repressora é agir contrariamente ao que pensa boa parte da população brasileira. Vivemos, neste momento, uma guinada à direita no país. Mesmo partidos de esquerda, quando estiveram no poder, pouco ou nada fizeram para que tivéssemos essas mudanças. Os principais avanços, assim, acabam partindo do Judiciário, e não de uma classe política que, desacreditada em sua maioria, age conforme seus próprios interesses, fechando os olhos para uma abordagem mais ampla, reformista, e que, mesmo contrariando seus grupos de eleitores, poderia nos levar a um futuro menos sombrio.”, relata Juliano Amengual Tatsch.

O Prêmio Gilberto Velho Mídia e Drogas tem apoio da Open Society Foundations e é uma parceria com a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji). O prêmio homenageia o antropólogo Gilberto Velho (1945-2012), pioneiro da Antropologia Social, decano da Universidade Federal do Rio de Janeiro e um dos primeiros a propor a discussão sobre a regulação das drogas no Brasil

Fonte: Daniella Vianna – assessora de imprensa – Prêmio Gilberto Velho

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dez 2, 2016 | Mídia | 3 Comentários

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