[Depoimento] – Revista Vexatória

por Heidi Ann Cerneka –  ITTC

Imagem by SEFRAS

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Devido às múltiplas denúncias que recebemos sobre o tratamento na hora da revista, fomos visitar o P2 de Franco da Rocha. Já estava convencida da necessidade de acabar com essa prática, mas agora estou totalmente convencida.

Conversamos com muitas, quase todas as mulheres e, ainda, alguns homens, além de crianças que corriam e brincavam. Todas as visitas carregavam tigelas cheias de comida. Muitas pessoas haviam chegado ontem para dormir no carro ou no ônibus-e outros saíram de casa às 3h da madrugada para entrar na fila dos visitantes.

Essas pessoas nos contaram barbaridades sobre a prática da revista- feita pelos agentes penitenciárias que chegavam, muitas vezes, a ofender verbalmente o visitante, rindo e dizendo que a pessoa fedia, estava suja e precisava tomar um banho. Ouvimos depoimentos de mulheres grávidas que era obrigadas à agachar três vezes, fazendo força e assoprando para comprovar que não estavam escondendo nada no interior do seu corpo.

Conversamos com algumas mulheres que foram encaminhadas ao pronto socorro para serem examinadas a fim de que pudessem identificar, em vão, alguma substância escondida no interior do seu corpo. Uma mulher nos contou que o médico responsável no PS se recusou a realizar o exame solicitado, afirmando que não se tratava de uma emergência e que o mesmo não recebia salário do Estado para conduzir esse tipo de procedimento.

As mulheres que foram para o pronto socorro são obrigadas a assinar um termo dizendo que ela foi de livre e espontânea vontade. Caso haja recusa, elas perdem o direito de visitar seus familiares, além de já terem perdido a visita daquele dia. Muitas delas estão acompanhadas de crianças que tudo testemunham.

Outra mulher, a Daniela, acompanhada do seu filho de 5 anos, nos confessou que, depois de agachar muitas vezes, foi obrigada a virar de costas e, nesse momento, a agente fez um exame de toque no ânus dela. Outras nos contaram como foram obrigadas a usar a mão para abrir a vagina e assim mostrar que nada escondiam. Algumas senhoras confirmaram que são obrigadas a agachar, mesmo diante da notória dificuldade física que as cometem.

A regra determina que os meninos passarão sozinhos pela Revista à partir dos 12 anos, contudo, encontramos mães que afirmam que seus filhos, menores de 5 anos, já entram sem acompanhamento parental.

Todas as famílias contatadas dizem que toda a família sofre com essa situação e que as autoridades desconhecem o sofrimento vivido a cada semana.

É muito angustiante ouvir as denúncias de uma pessoa que sofre maus-tratos. Muito mais forte é presenciar centenas de pessoas que esperam, em fila, para passar por esse constrangimento.

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jul 31, 2013 | Sem categoria | 0 Comentários

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