Encarceramento em massa e a guerra contra as drogas: uma abordagem de gênero

Por Ana Luiza Voltolini

Na última quinta-feira (6), a internacionalista Nathália Duó e a advogada Isabela Cunha, ambas agentes de ação social do Projeto Estrangeiras, participaram de debate na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) sobre o tema “Encarceramento em massa e a guerra contra as drogas: uma abordagem de gênero”.

A iniciativa faz parte da Semana de Integração da Faculdade de Ciência Humanas e da Saúde, realizada de 3 a 8 de novembro no Campus Monte Alegre da Universidade, e do grupo de estudos de criminologia crítica coordenado pela professora Adriana Eiko. Participaram também Elisa Crema, como coordenadora da mesa, membro do Grupo de Estudos de Psicologia e Criminologia Crítica e aluna do curso de Psicologia da PUC-SP, Sarah Gimbernau, membro do Grupo de Estudos de Psicologia e Criminologia Crítica e aluna do curso de Psicologia da PUC-SP, e Rafael Presto, membro do Coletivo DAR – Desentorpecendo a Razão.

Entre os temas levantados no evento, abordou-se o recorte de gênero, momento em que as profissionais tiveram a oportunidade de apresentar um pouco de sua atuação dentro do ITTC – Instituto Terra, Trabalho e Cidadania.

O trabalho de base desenvolvido pelo Projeto Estrangeiras, traz desde o seu início o debate sobre a relação direta entre a guerra às drogas e as relações de gênero. Um exemplo disso é que no início do Projeto, quando foi identificado esse grupo e suas vulnerabilidades, assim como sua sujeição a diversas violações, havia cerca de 40 estrangeiras presas em São Paulo. Hoje esse número já chega a cerca de 500 mulheres, o que significa um aumento de mais de 1000% no número total de mulheres em situação de prisão.

Durante o debate, as profissionais deram ênfase à questão do espaço em que essas mulheres atuam na hierarquia da droga. Existe uma resistência das instituições, como o Poder Judiciário, em enxergá-las como “mulas do tráfico”; ou seja, aquelas que realizam o transporte da droga e raramente possuem conexões significativas com as verdadeiras organizações criminosas.

Outro aspecto levantado foi o contexto socioeconômico no qual essas mulheres estavam inseridas em seus países de origem: muitas eram as únicas provedoras do meio familiar ou lidavam com situações de doenças e até com conflitos civis e militares nesses locais.

Visto isso, existe um diagnóstico levantado pelo Projeto Estrangeiras de que essas mulheres, acusadas pelo crime de tráfico de drogas, são também vítimas do tráfico de pessoas. Essa é uma tese que o ITTC tem desenvolvido e que se torna cada vez mais evidente a partir dos diálogos e do contato direto e horizontal que a equipe tem semanalmente com as mulheres.

Para o Projeto Estrangeiras, bem como para o Instituto, trazer a questão de gênero e empoderamento da mulher na guerra contra o tráfico é um desafio importante a ser incorporado também na discussão pública. Para saber mais sobre o tema e o trabalho do ITTC, acompanhe nossa página no Facebook e o blog do ITTC.

Compartilhe

nov 12, 2014 | Sem categoria | 0 Comentários

Posts relacionados