Novembro: o mês para posar de antirracista

Walkiria Barbosa*

Começou tardiamente com um dia, agora se denomina mês da Consciência Negra. Será que haverá um ano, uma vida inteira em que ela seja intrínseca à condição humana?

Somente há oito anos o Dia da Consciência Negra foi instituído oficialmente no Brasil. A escolha da data é devido ao aniversário de morte de Zumbi dos Palmares, líder na resistência à escravidão, a fim de enaltecer a relevância da cultura e existência do povo negro na história do país e no seu desenvolvimento, além de levantar debates sobre racismo e desigualdade.

Ao sair um pouco do âmbito da educação, é possível perceber que nesse período do ano pipocam muitas iniciativas com o intuito de visibilizar uma luta de centenas de anos de um movimento descentralizado – o movimento negro. No ambiente corporativo, a discussão não é mais necessariamente se racismo é crime e não se polemiza a validade das ações afirmativas. O assunto do momento é se as pessoas e/ou os espaços são antirracistas ou não. Pois, como diz Angela Davis, “Numa sociedade racista não basta não ser racista. É necessário ser antirracista”, então mais que apoiar a causa, é preciso promover ações em prol dela.

Com isso, surge a complexa questão sobre as organizações e seu racismo institucionalizado realizarem ações antirracistas. Há muitas empresas, do mundo corporativo especialmente, organizando eventos de valorização da inclusão racial, com frases como “mais do que convidar para a festa, é preciso tirar para dançar”, onde declaram querer jovens universitários e profissionais negros em seus cargos de liderança, a famigerada representatividade. Essas ações também envolvem políticas de recursos humanos menos exigentes, por exemplo, o inglês fluente deixa de ser essencial e a empresa inclusive se compromete a colaborar para que os candidatos selecionados desenvolvam esse conhecimento.

As consultorias encontraram um nicho de mercado na questão racial, como tudo que o capitalismo toca. Existem, inclusive, organizações voltadas exclusivamente à inclusão de “talentos negros”, ou outras minorias em direitos, no mercado de trabalho. O termo ‘talentos negros” soa problemático, pois não parece considerar a interseccionalidade da condição do negro no Brasil e como é impossível dissociar raça da questão social e de gênero. Conclui-se, então, que são considerados talentos apenas aqueles que tiveram acesso a oportunidades que a maioria não tem. Somente esses são considerados potenciais líderes representativos, enquanto ao restante da população negra restam os cargos operacionais desvalorizados ou que desenvolvem o aclamado “empreendedorismo”.

O setor privado descobriu uma mina de ouro na produtividade que se tem a longo prazo com um grupo de colaboradores mais diversos – não só no que tange a raça. Seria essencial que essa aderência também considerasse o papel de agente econômico das empresas e sua responsabilidade social. Mais que isso, é assustador não ver esse movimento antirracista nas organizações públicas, onde se faz necessário o desenvolvimento e implementação de políticas públicas que garantam o acesso de indivíduos negros a todos os direitos básicos, para que a linha de largada seja igualitária e realmente o talento posso ser quesito nessa corrida da meritocracia.

* Walkiria Barbosa é assistente social e estagiária na área de Administração do ITTC

 

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nov 28, 2019 | Artigos, Noticias | 0 Comentários

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