Perfil – Presas Estrangeiras
Às sextas feiras, publicamos histórias que nos foram escritas/relatadas por mulheres que vivem em situação de Cárcere no país.
Conheça uma sul africana acompanhada pelo Projeto Estrangeiras.
*Os nomes dos perfis serão trocados, ou omitidos, por motivos de segurança.
Olá. Meu nome é Jane Mary * e sou da África do Sul, Johannesburg. Tenho 24 anos, dois filhos queridos e uma mãe ótima que cuida de nós todos. Quando ela estava sem trabalho, eu me meti em coisas sobre as quais eu não queria que ela soubesse. Estava viajando com drogas para ajudar minha mãe, irmã e irmão.
Eu fui à primeira viagem e consegui passar. Dei, então, o dinheiro nas mãos de minha mãe. Ela me perguntou onde tinha conseguido aquele dinheiro e eu respondi que estava fazendo um pequeno trabalho, pois queria ajudá-la. Eu já tinha terminado a escola e estava estudando marketing de negócios, pois sempre quis ter meu próprio negócio.
Fiz então uma outra viagem ao Brasil dizendo à minha mãe que estava indo viajar com alguns amigos ao Brasil. Perguntei a ela se ela cuidaria da minha criança, já que na época não sabia que estava grávida do meu segundo filho. Fiquei no Brasil por uma semana. Conheci o homem de quem devia pegar as coisas e fui com ele a um hotel para que ele me desse a mala com a qual viajaria, peguei a mala e voltei ao hotel. No aeroporto, já à caminho do avião, após despachar a bagagem, a polícia me parou, pedindo meu passaporte e passagem, que dei a eles. Eles me pediram para que os acompanhasse.
Os policiais me disseram que uma mulher me revistaria para ver se tinha algo em mim e, se não tivesse, eles me deixariam ir. Fui a uma sala com a mulher, que me revistou e chamou os policiais, dizendo que eu não eu tinha nada. Os policiais disseram que procurariam na minha bagagem e, se, dessa vez, não houvesse nada, então me deixariam ir. Minhas malas estavam em um pequeno carro quando a polícia os mandou parar para retirar minha bagagem. Eles retiraram as malas, as passaram em um raio-x, que não mostrou nada. A polícia disse que havia algo dentro da mala e pediu as chaves da mala, pedido que não entendi, então eles quebraram o cadeado. Os policiais não procuraram coisa por coisa, mas foram direto no local onde a coisa estava escondida. Eles me disseram que o barco já tinha afundado e que eu iria para a prisão. Tinha comprado presentes para meu filho e meus irmãos e eles arrancaram os papéis de presente.
Fui encaminhada à delegacia dentro do aeroporto e fiquei em um cômodo pequeno com outra mulher. Eu estava chorando muito. O policial perguntou para quem eu gostaria de ligar e eu disse que ligaria para minha mãe, isso foi dia 14 de junho de 2009 às 23h da noite. Dei o número de telefone e liguei para minha mãe. Já estava muito tarde àquela hora na África do Sul. Minha mãe atendeu e eu pedi que ela me perdoasse, ela me perguntou por quê me perdoaria e eu respondi que tinha feito algo errado, dizendo que estava levando drogas para a África do Sul através de alguém que eu tinha conhecido. Ela me pediu o número dessa pessoa e eu disse que estava no meu notebook, pedindo para que ela ligasse para ele dizendo que eu tinha sido presa, mas que ela não brigasse com ele pois ele iria ajudar. Ela estava chorando, assim como eu, pois eu não sabia o que aconteceria comigo.
Em 16 de junho de 2009 eu cheguei à Penitenciária Feminina da Capital. Eu estava com muito medo. Falei com uma moça que falava inglês e que também era da África do Sul e ela me disse para não ficar com medo, pois lá estavam várias moças da África do Sul. Eu estava chorando quando uma mulher me disse para tirar minhas roupas pois ela tinha que me revistar antes de entrar na prisão. Eu estava muito envergonhada, mas tive que deixar meu orgulho na entrada da prisão e, enquanto a guarda olhava para mim, fiquei nua e abaixei três vezes. Me senti suja e tive que deixar meu orgulho e vergonha na porta da PFC. Eu nunca sonhei que estaria grávida na prisão, e desde então choro e peço para Deus me perdoar pelo que fiz.
Em julho tive que ir ao Centro Hospitalar onde estava recebendo cuidados, pois estava com pressão alta e meu bebê não estava se mexendo. Quando estive no hospital da prisão, conheci uma moça também sul-africana e ela disse que pela noite teria que ir para dar a luz. Ela voltou no dia seguinte com um menino. Eu a ajudei a cuidar do bebê e mostrei a ela como dar banho, assim como minha mãe me ensinou com meu primeiro filho.
Depois disso, eles me levaram a um hospital do lado de fora onde fiquei por um mês para que eles vissem o que tinha de errado comigo. Eu estava tomando remédios e fazendo vários exames. Eu estava azul e vermelha nos braços, mas não podia fazer nada, pois minha saúde vinha em primeiro lugar.
A ocasião de dar a luz foi o momento mais triste da minha vida inteira. Eu não falava uma palavra de português, começaram as dores do parto e eu estava sozinha na área hospitalar. Quando a enfermeira chegou, pedi para ela chamar o médico e mostrei que o bebê já estava saindo, mas ela respondeu que ele estava ocupado. Não podia fazer mais nada que não empurrar, então continuei empurrando até sentir a cabeça do meu bebê, continuei empurrando até meu bebê, já completamente fora, começar a chorar. Só então a enfermeira chamou o médico. Ele então me disse que eu havia colocado minha vida em risco, ao que respondi que eu sou uma mãe, e meus filhos vêm em primeiro lugar.
Fui levada à enfermaria, andando, carregando meu bebê nos braços ainda com o cordão umbilical, ainda que sentindo dor. Eu fiquei pensando que aquilo só estava acontecendo por que estava presa, então rezei a Deus novamente para que Ele protegesse a mim e ao meu bebê. Quando levaram meu filho, continuei na cama chorando de dor e só então a enfermeira continuou o trabalho de parto com a retirada da placenta. Depois de tudo, voltei ao quarto, onde me entregaram de volta meu bebê e onde me esperava um policial.
O policial me algemou à cama e fiquei impossibilitada de me mexer normalmente, de ir ao banheiro, de andar pelo quarto. Quando tinha que ir ao banheiro, precisava pedir para que me tirassem as algemas e, na volta, era novamente algemada. Ficava, então, na cama, cuidando do meu pequeno anjo.
Todos os policiais que permaneceram no quarto vigiando a mim e à minha colega de quarto, que era uma moça brasileira, eram homens. Durante uma noite, não conseguia dormir e fiquei virando na cama de olhos abertos. Quando olhei para a cama da minha companheira de quarto, o policial estava dormindo com a moça brasileira e eles estavam se beijando. Eu fiquei quieta e nunca contei nada a ninguém.