O encontro aconteceu na sede da Cruz Vermelha, em São Paulo, e trouxe como fio condutor os direitos humanos das pessoas encarceradas, especialmente mulheres e migrantes
Aconteceu no sábado, 7 de abril, um novo ciclo de formação de mais uma equipe de voluntários da Cruz Vermelha, entidade de princípios humanitários que tem como um de seus objetivos de atuação desenvolver na população os ideais de paz, respeito mútuo e compreensão entre todos os povos. A formação contou com a participação da advogada e pesquisadora do ITTC Isabela Cunha e de Agnes Dolly, migrante assistida pelo projeto Migrantes Egressas, do ITTC.
O encontro contou com aproximadamente 20 novos voluntários e voluntárias em formação com foco de atuação em campanhas e projetos da Cruz Vermelha na cidade de São Paulo. A advogada e pesquisadora do projeto Estrangeiras, Isabela Cunha, trouxe para o encontro o histórico de luta em prol dos direitos humanos do ITTC, além da expertise em tratar de temas como encarceramento, migrantes e equidade de gênero.
Leia também: “ITTC faz parte de delegação brasileira em programa de colaboração Brasil-Tailândia”
“O Instituto Terra, Trabalho e Cidadania trabalha há mais de 20 anos no combate ao encarceramento em massa com enfoque em gênero” explica a pesquisadora. Quando o assunto são as mulheres migrantes em conflito com a lei, Isabela pontua que no momento aproximadamente 200 mulheres migrantes estão na prisão na capital, porém, muitas outras cumprem penas nos regimes semiaberto e aberto, enquanto aguardam suas expulsões. “O ITTC entende que as pessoas estrangeiras que saem do sistema prisional são e devem ser reconhecidas como pessoas migrantes, para que assim tenham acesso pleno a todos os direitos que as pessoas migrantes têm”, encerrou a pesquisadora.
Agnes Dolly, migrante sul-africana, descreveu sua perspectiva em relação à prisão e à política de drogas aqui no Brasil. Para ela, o foco de atuação no combate ao tráfico possui um direcionamento que atinge apenas uma população específica e vulnerável. “A primeira vez que vi drogas na minha vida foi quando eu fui parada no aeroporto. Eu não sou uma traficante internacional. Quando eu saí da prisão tive muitas dificuldades em arranjar trabalho. Eu me lembro de perder as três primeiras oportunidades que eu tive porque disse que era egressa do sistema. Foi só quando eu comecei a omitir isso que as oportunidades começaram a aparecer. O que as pessoas precisam entender é que, assim como aqui fora, dentro dos presídios existe um universo de tipos de pessoas, porém, quando a gente sai, a sociedade inteira nos enxerga apenas de um jeito, com estigma”, afirma a migrante.
O evento caminhou com a participação de todos para um debate sobre a falência da guerra às drogas, e de como a política punitivista adotada pelo Brasil acaba selecionando apenas camadas específicas da nossa sociedade, sendo ela negra, pobre e periférica.
Foto: Cruz Vermelha